As muitas caras da Poesia

5.23.2008

Bela Inês, Bela Inês...


Eu e minhas promessas. Hoje em sala, isso mesmo, hoje, dia normalmente enforcado, pós-feriado e eu lá, devo estar mudando, rs. Voltando, hoje, em sala, prometi postar um pequeno comentário sobre o episódio de Inês de Castro, a Linda Inês. Será um prazer, mas é preciso lembrar que há farto material na internet, alguns muito bons e sérios, como sempre complemente, comente, questione. Vamos a ele:

PEQUENO APANHADO SOBRE INÊS DE CASTRO.
Professor. Ms: Carlos Sérgio

O episódio d'Os Lusíadas que se refere a morte de Inês de Castro, está no canto três da obra, composta por X cantos (como você, com certeza, já sabe) . É disparado, o mais Lírico dentro da construção épica camoniana.
De forma simplista, podemos dividir a epopéia em fatos históricos e mitológicos, apesar de sempre haver referências míticas dentro dos históricos, e o episódio é claramente HISTÓRICO, como muitas indicações das tramas políticas que envolveram a primeira dinastia real portuguesa, os Borgonha.

Filhos naturais, disputa por território entre entre Galícia, Castela , Portugal. Enfim, problemas de Estado que para Camões perdem de longe para as motivações amorosas “tu, só tu, puro amor com força crua / Que os corações humanos tanto obriga / deste causa à molesta morte sua...”
Historicamente estamos em pleno século XIV, no reinado de D. Afonso IV, vencedor da batalha do Salado que expulsa definitivamente os mouros (árabes) da península ibérica e aproveita um pequeno período de paz.
O futuro Rei de Portugal , D. Pedro I, da casa de Borgonha (e não de Aviz que é o “brasileiro”) e que nunca quis casar por arranjo, acaba cedendo e casando com Constança Manuel de Castella, que traz em sua corte a Bela Inês de Castro. O príncipe se apaixona e vive um caso amoroso. Com a morte de Constança, os amantes passam a viver seu amor, mal visto pelo Rei, pelo conselho e por parte do povo que temem uma nova guerra.
O Rei, convencido por alguns conselheiros, acaba promovendo a morte de Inês, na frente dos filhos, enquanto Pedro está em uma caçada.
Ao subir ao trono, com 37 anos, a primeira atitude do Rei Pedro é transformar sua amada morta em rainha, construir-lhe um túmulo digno em Alcobaça e vingar-se dos conselheiros que mataram a Rainha.
Alguns “mitos” acompanham essa trágica histórica de amor: o encontro de Inês e Rei- sogro D. Afonso; a cerimônia do Beija-mão que Pedro teria promovido, são exemplos.
Vamos pincelar o episódio, antes do resumo que comenta cada estrofe:
São 17 oitavas, da 118 até a 135. Na 118, há referência à Batalha do Salado e a citação do episódio digno de lembrança que é o assassinato da “rainha” “O caso triste e digno de memória, / Que do sepulcro os homens desenterra, / Aconteceu da mísera e mesquinha/ que depois de morta foi Rainha.”
Da estrofe 119 até a 125, mostra-se a ida dos algozes ao encontro de Inês que está no castelo as margens do rio Mondengo, “morta” de saudades de seu amado “Estavas, linda Inês, posta em sossego,/ De teus anos colhendo o doce fruto / Naquele engano da alma, ledo e cego, / Que a fortuna não deixa durar muito/ Nos saudosos campos do Mondengo”.
A 125 prepara para a súplica de Inês ao Rei “ E depois, nos meninos atentando, / que tão queridos tinha e tão mimosos / cuja orfandade como mãe temia / Para o avô cruel assim dizia:”
A fala da “rainha”, que começa na estrofe 126 e vai até a 129, mostra preocupação com os filhos, pede o exílio, sempre honrada e com a suavidade dada por Camões ao episódio inesiano, tratando como compaixão, isto é, muito mais elegíaco do que trágico: “Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito / ( Se de humano é matar uma donzela,/ fraca e sem força, só por ter sujeito / o coração a quem soube vencê-la) , / A estas criancinhas tem respeito...”
A 130, mostra a piedade do Rei, mas o endurecimento dos conselheiros “Queria perdoar-lhe o Rei benigno, / Movido das palavras que o magoam; / Mas o pertinaz povo e seu destino...”
Na 131, aparece a comparação com a mitologia e a figura de Policena,outra jovem sacrificada, na 132, uma idealização da beleza de Inês, uma descrição do corpo da “rainha” . A partir daí uma lamentação sobre a injustiça da morte e o final criando o “mito” da fonte dos amores, criada pela lágrimas de Inês : “E, por memória eterna, em fonte pura / As lágrimas choradas transformaram./ O nome lhe puseram, que ainda dura, / Dos amores de Inês, que ali passaram./ Vede que fresca fonte rega as flores, / Que lágrimas são a água e o nome Amores.”

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4 Comments:

  • Carlos eu não entendi essa mescla, de fatos históricos com mitologia do Camões ! Ítalo Vaz

    By Anonymous Anônimo, at 9:27 AM  

  • Professor ao ler uma parte da estrofe 130 vc colocou que o Rei teria tido piedade de Inês, porém acabou por matar ela, mas cita também que foi convencido por seus conselheiros, então o Rei teria matado Inês por influencia e pressão de seus conselheiros?? Ou seria dele mesmo mas fortificada pelos conselheiros ??

    By Anonymous Anônimo, at 5:27 PM  

  • Cs, na estrofe 120, tem:
    "Estavas, linda Inês, posta em sossego,
    De teus anos colhendo doce fu[i]to, ..."
    Esse tal "fru[i]to" seria a prole de Inês com Pedro?

    E sobre a estrofe 122, tem:
    "De outras belas senhoras e Princesas
    Os desejados tálamos enjeita..."
    tálamos seria o receptáculo da flor, certo?
    Então Camões estaria referindo-se ao útero das outras mulheres que Pedro rejeita?

    Ééééééé... viajei na maionese?
    Bj
    Andria Chada.

    By Blogger xxxx xxxx, at 8:47 PM  

  • Prof. eu já vi alguns comentários que a natureza sente a morte de Inês...poderias me explicar?

    By Blogger Nayara Pamplona, at 7:50 AM  

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