As muitas caras da Poesia

5.26.2008

POSTAGEM "EXPRESS" - para exercitar

Da minha aldeia vejo o quanto da terra se pode ver no Universo... / Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer /Porque eu sou do tamanho do que vejo / E não, do tamanho da minha altura.. /

Nas cidades a vida é mais pequena/ Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro / Nas cidades as grandes casas fecham a vita à chave, /Escondem o horizonte,empurram o nosso olhar para longe De todo céu / Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar / E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver
QUESTÕES:
1. O eu-lírico utiliza a maiúscula alegórica. Qual um possível objetivo para tal recurso?
2.O bucolismo do poeta acaba por afastá-lo da cidade. Em que coisas o ambiente urbano prejudicaria o ser humano? Explique

Leve, leve, mosquito leve, / um vento muito leve passa / E vai-se, sempre muito leve. / E eu não sei o que penso / Nem procuro sabê-lo.

3. Identifique e comente uma característica típica do modernismo
4. Identifique e comente uma característica típica do autor

O luar quando bate na relva / Não sei que cousa me lembra / Lembra-me a voz da criada velha /Contando-me contos de fadas / E de como Nossa Senhora vestida de mendiga/ Andava à noite nas estradas/Socorrendo as crianças maltratadas.
Se eu já não posso crer que isso é verdade, / Para que bate o luar na relva?
5. Explicite a postura religiosa do eu-lirico
6. O que parece motivar a mudança de comportamento do eu-lírico?

5.23.2008

Bela Inês, Bela Inês...


Eu e minhas promessas. Hoje em sala, isso mesmo, hoje, dia normalmente enforcado, pós-feriado e eu lá, devo estar mudando, rs. Voltando, hoje, em sala, prometi postar um pequeno comentário sobre o episódio de Inês de Castro, a Linda Inês. Será um prazer, mas é preciso lembrar que há farto material na internet, alguns muito bons e sérios, como sempre complemente, comente, questione. Vamos a ele:

PEQUENO APANHADO SOBRE INÊS DE CASTRO.
Professor. Ms: Carlos Sérgio

O episódio d'Os Lusíadas que se refere a morte de Inês de Castro, está no canto três da obra, composta por X cantos (como você, com certeza, já sabe) . É disparado, o mais Lírico dentro da construção épica camoniana.
De forma simplista, podemos dividir a epopéia em fatos históricos e mitológicos, apesar de sempre haver referências míticas dentro dos históricos, e o episódio é claramente HISTÓRICO, como muitas indicações das tramas políticas que envolveram a primeira dinastia real portuguesa, os Borgonha.

Filhos naturais, disputa por território entre entre Galícia, Castela , Portugal. Enfim, problemas de Estado que para Camões perdem de longe para as motivações amorosas “tu, só tu, puro amor com força crua / Que os corações humanos tanto obriga / deste causa à molesta morte sua...”
Historicamente estamos em pleno século XIV, no reinado de D. Afonso IV, vencedor da batalha do Salado que expulsa definitivamente os mouros (árabes) da península ibérica e aproveita um pequeno período de paz.
O futuro Rei de Portugal , D. Pedro I, da casa de Borgonha (e não de Aviz que é o “brasileiro”) e que nunca quis casar por arranjo, acaba cedendo e casando com Constança Manuel de Castella, que traz em sua corte a Bela Inês de Castro. O príncipe se apaixona e vive um caso amoroso. Com a morte de Constança, os amantes passam a viver seu amor, mal visto pelo Rei, pelo conselho e por parte do povo que temem uma nova guerra.
O Rei, convencido por alguns conselheiros, acaba promovendo a morte de Inês, na frente dos filhos, enquanto Pedro está em uma caçada.
Ao subir ao trono, com 37 anos, a primeira atitude do Rei Pedro é transformar sua amada morta em rainha, construir-lhe um túmulo digno em Alcobaça e vingar-se dos conselheiros que mataram a Rainha.
Alguns “mitos” acompanham essa trágica histórica de amor: o encontro de Inês e Rei- sogro D. Afonso; a cerimônia do Beija-mão que Pedro teria promovido, são exemplos.
Vamos pincelar o episódio, antes do resumo que comenta cada estrofe:
São 17 oitavas, da 118 até a 135. Na 118, há referência à Batalha do Salado e a citação do episódio digno de lembrança que é o assassinato da “rainha” “O caso triste e digno de memória, / Que do sepulcro os homens desenterra, / Aconteceu da mísera e mesquinha/ que depois de morta foi Rainha.”
Da estrofe 119 até a 125, mostra-se a ida dos algozes ao encontro de Inês que está no castelo as margens do rio Mondengo, “morta” de saudades de seu amado “Estavas, linda Inês, posta em sossego,/ De teus anos colhendo o doce fruto / Naquele engano da alma, ledo e cego, / Que a fortuna não deixa durar muito/ Nos saudosos campos do Mondengo”.
A 125 prepara para a súplica de Inês ao Rei “ E depois, nos meninos atentando, / que tão queridos tinha e tão mimosos / cuja orfandade como mãe temia / Para o avô cruel assim dizia:”
A fala da “rainha”, que começa na estrofe 126 e vai até a 129, mostra preocupação com os filhos, pede o exílio, sempre honrada e com a suavidade dada por Camões ao episódio inesiano, tratando como compaixão, isto é, muito mais elegíaco do que trágico: “Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito / ( Se de humano é matar uma donzela,/ fraca e sem força, só por ter sujeito / o coração a quem soube vencê-la) , / A estas criancinhas tem respeito...”
A 130, mostra a piedade do Rei, mas o endurecimento dos conselheiros “Queria perdoar-lhe o Rei benigno, / Movido das palavras que o magoam; / Mas o pertinaz povo e seu destino...”
Na 131, aparece a comparação com a mitologia e a figura de Policena,outra jovem sacrificada, na 132, uma idealização da beleza de Inês, uma descrição do corpo da “rainha” . A partir daí uma lamentação sobre a injustiça da morte e o final criando o “mito” da fonte dos amores, criada pela lágrimas de Inês : “E, por memória eterna, em fonte pura / As lágrimas choradas transformaram./ O nome lhe puseram, que ainda dura, / Dos amores de Inês, que ali passaram./ Vede que fresca fonte rega as flores, / Que lágrimas são a água e o nome Amores.”

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5.14.2008

O "novo" Velho da Horta


Gente estava a um tempo afastado, obrigações de trabalho, doutorado na cabeça, mas precisava postar um resumo de uma POSSÍVEL nova leitura obrigatória dos processos seletivos aqui de Belém, na verdade, é só uma súmula, o que chamo de "resumo da preguiça", mas vai ajudar a dar os primeiros passos (olha o chavão!). A obra é facilmente encontrável na rede e (novamente sendo previsível) a leitura da obra é sempre melhor. Mas vamos ao resumo que espero ajude, como sempre os comentários, dúvidas, acréscimos, são a razão desse blog.

O HUMANISMO DE GIL VICENTE :

I.ASPECTOS HISTÓRICOS

Do final do século XV a meados do XVI os países da Europa, seguindo a Itália, que foi precursora, entraram na fase mercantil propriamente dita e tentaram adaptá-la às suas estruturas feudais.
O aumento do volume de trocas, inclusive do dinheiro, intensifica a busca de metais preciosos e conseqüentemente de lugares onde eles existam. O descobrimento da prata na América e do caminho marítimo para a índia vem ao encontro desta necessidade.
Em Portugal, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, o processo de centralização política e econômica sob a chefia do Rei intensifica-se, ou seja, a burguesia mercantil fica subordinada ao Rei e a exploração econômica é monopolizada pela Coroa. Perceba, caro(a) universitário(a), que é uma nova estrutura amarrada a velhos costumes palacianos.
É óbvio que a forma como se apresentará o pensamento cultural sofrerá alterações. A principal delas é o advento do pensamento humanista que exprime a crença em valores morais e estéticos que sejam humanos e não divinos, é portanto, a valorização do homem e o começo do questionamento da dominação clerical.
A descoberta da tipografia em meados do século XV, é fundamental para a divulgação do pensamento Humanista e das obras literárias como um todo, tornando algumas delas mais populares.
Como iniciadores dos descobrimentos marítimos, os portugueses tiveram papel importante no desenvolvimento dessa cultura que acabou desembocando no Renascimento.
O teatro de Gil Vicente em sua diversidade estética e temática mostra exatamente estas duas relações históricas: o fim da era medieval e uma incipiente atmosfera humanista e renascentista.


II.PEQUENA BIOGRAFIA DE GIL VICENTE


As datas de nascimento e morte de Gil Vicente são incertas. Estima-se que nasceu entre 1465 e 1470 e que morreu entre 1536 e 1540. Com ele o teatro português sai da pré-história graças ao melhor acabamentos estético e a introdução de algumas estruturas dramáticas. Seu teatro é extremamente influenciado pelo do espanhol Juan del Encina.
Gil Vicente é um escritor de transição entre o medieval e a modernidade, a maioria das suas peças é bilingüe (espanhol e português). Seu primeiro auto foi encenado em 1502 em homenagem ao nascimento do rei (auto da Visitação ou monólogo do vaqueiro).
Apesar de ser um escritor cortesão não deixou de criticar de modo irônico a vida na corte, atividade que só foi encerrada com o estabelecimento da inquisição em Portugal, pelo Papa Paulo III.
Gil Vicente é uma testemunha da época e retrata todas as transformações econômicas e religiosas pelas quais passa sua pátria.











III. O VELHO DA HORTA
Apresentação

O VELHO DA HORTA, de Gil Vicente, que foi representado em 1512, é uma farsa ( a segunda do camarada, a primeira é o AUTO da Índia, lembras?). Farsa é uma expressão latina que quer dizer rechear, fartar. É burlesca, exagerada, próxima do ridículo e principalmente centrada sobre quadros da vida real. O gênero originou-se na Idade Média francesa, mas a princípio pretendia apenas causar o riso sem reflexão, o que NÃO ocorre em Gil Vicente que sempre utiliza a ironia como modo de criticar a sociedade que o circunda a fim de moralizá-la.
É uma obra escrita em versos, com métrica popular que descreve uma intriga engenhosamente construída. O tema é o do velho apaixonado. O Velho está no seu jardim. E os jardins são para Gil Vicente lugares privilegiados, sempre impregnados mais ou menos de eflúvios amorosos. Uma jovem vem ali para colher "cheiros para a panela". O Velho corteja-a e ela resiste.
A mulher do velho manda-o chamar para vir jantar, mas ele recusa-se e fica no jardim esquecido da sua idade e entoando canções de amor.
A Alcoviteira Branca Gil, vendo nele uma presa fácil, vem encontrar-se com ele. Consegue extorquir-lhe todo o dinheiro que pode levando-o a acreditar que lhe abrirá caminho até ao coração da jovem. Mas um alcaide, acompanhado por quatro beleguins, prende Branca Gil, que será castigada como merece.
E o Velho vem a saber que a moça por quem está apaixonado já se casou com um "noivo moço" que "não tirava os olhos dela".
Pouco mais seria necessário para fazer de tal tema um drama, isso até acontece algumas vezes na maneira como se exprime o Velho.
O velho apaixonado, apesar de tudo, continua sendo até ao fim ridículo e odioso. A simpatia dos espectadores vai toda para a jovem, apesar da crueldade com que ela o trata.
O que esta farsa exalta é a vitória da juventude e da vida contra a velhice e a morte. E acontece que, desta vez, a causa da juventude se confunde com a da moral, visto que no remate a jovem simpática se casa e o velho libidinoso é escarnecido.
Não perca de vista que há também uma crítica ao comportamento trovadoresco representado pelo velho e que é, como ele, ultrapassado.

A Narrativa
A obra começa com o velho que passeia por sua propriedade e reza o que mostra a influência medieval “Velho — Pater noster criador, Qui es in coelis, poderoso, Santificetur, Senhor,
nomen tuum vencedor, nos céu e terra piedoso. Adveniat a tua graça, regnum tuum sem mais guerra; voluntas tua”
Logo após entra a moça. Gil Vicente é um criador de tipos. A linguagem do Velho é um arremedo da poesia palaciana. A linguagem da Moça é zombeteira e se contrapõe à do velho : “Velho — Onde se criou tal flor? Eu diria que nos céus.
Moça — Mas no chão.
Velho — Pois damas se acharão que não são vosso sapato!
Moça — Ai! Como isso é tão vão, e como as lisonjas são de barato!
Velho — Que buscais vós cá, donzela, senhora, meu coração?
Moça — Vinha ao vosso hortelão, por cheiros para a panela.” A entrada do PARVO, criado do velho, mostra uma tentativa de chamar o patrão, inutilmente, para as coisas práticas do dia a dia: “Velho — Vai-te! Queres que t’açoite? Oh! Dou ao demo a intrujona sem saber!
Parvo — Diz que fosseis vós comer e não demoreis aqui.
Velho — Não quero comer, nem beber.
Parvo — Pois que haver cá de fazer?
Velho — Vai-te daí!”. A esposa do velho apenas entra para reafirmar o ridículo da situação.
Em seguida, entra em cena uma alcoviteira que oferece seus préstimos profissionais para garantir ao Velho a posse da amada. Mediante promessas de que o êxito está próximo, a mulher extorque toda a riqueza do Velho : “Velho — Dizede-me: quem é ela?
Alcoviteira — Vive junto com a Sé. Já! Já! Já! Bem sei quem é! É bonita como
estrela, uma rosinha de abril, uma frescura de maio, tão manhosa, tão sutil!...
Velho — Acudi-me Branca Gil, que desmaio.”. Finalmente, entra em cena a Justiça que prende a alcoviteira, mas retira do Velho a esperança de ver realizado tão louco amor: Alcaide — Vinde da parte de el-Rei!
Alcoviteira — Muita vida seja a sua. Não me leveis pela rua; deixar-me vós, que eu
me irei.
Beleguins — Sus! Andar!
Alcoviteira — Onde me quereis levar, ou quem me manda prender? Nunca havedes
de acabar de me prender e soltar? Não há poder!
Alcaide — Nada se pode fazer.
Alcoviteira — Está já a carocha aviada?!... Três vezes fui já açoitada, e, enfim, hei
de viver. No final, vem a notícia de que a jovem que motivou tão tresloucada paixão casou-se: Velho — Oh coitado! A minha é!
Mocinha — Agora, má hora e vossa! Vossa é a treva. Mas ela o noivo leva. Vai tão
leda, tão contente, uns cabelos como Eva; por certo que não se atreva toda a gente!
O Noivo, moço polido, não tirava os olhos dela, e ela dele.

ESTRUTURA DA OBRA

Quatro versos em redondilhas maiores e um quinto verso com três sílabas métricas. Os conceitos formulados pelo Velho acerca da natureza do amor são quinhentistas (Petrarca). A interlocução do Velho apaixonado, contagiado pelo gosto das antíteses e pelo conceito do conflito entre a razão e o sentimento amoroso:
“que morrer é acabar
e amor não tem saída"

Temática
O tema central é o amor tardio, extemporâneo, as conseqüências desastrosas desse amor e o patético e ridículo do assédio de um velho, que se julga irresistível, a uma jovem esperta e prudente.
Personagens

Parvo – criado do Velho com pouca cultura,limitando-se a chamar-lhe às realidades primárias da vida (o comer) incapaz de compreender grandes dramas.

Alcoviteira – figura pitoresca da baixa sociedade peninsular astuciosa e mistificadora,cuja moral independe de todas as leis da sensibilidade.

Alcaide – antigo oficial de Justiça.

Beleguins – agentes de polícia.

Mocinha – personagem que vai até a horta comprar.

Mulher – espera do Velho, Só interessa o prático

Velho – idoso, proprietário de uma horta, apaixona-se subitamente por uma jovem compradora. Mostra o comportamento palaciano, vassalo, é ridículo.

Moça – rapariga com certa experiência, com resposta ao pé da letra, confiante em si mesmo, disposta a zombar de um velho inofensivo,sem quebra da sua dignidade pessoal.