As muitas caras da Poesia

8.14.2006

JÁ QUE NÃO DEU PRA SER DALCÍDIO...

Hoje é um dia enforcado, amanhã é comemorada a Adesão do Pará à Independência do Brasil, na verdade só não fui trabalhar, movido a doença e atestado. Resolvi então publicar algo que meus alunos(as) pedem bastante: uma pequena análise do romance Belém do Grão Pará de Dalcídio Jurandir, mas - Oh ! analfabetismo - ainda não consigo transferir o arquivo para cá, serão precisos mais alguns dias de blog, eu acho.
O poema que publiquei anteriormente tinha nas "costas" do original um outro poema,incompleto, com a página complementar perdida,o dia é de procurar e fiz isso. Acabei achando o complemento e mais uma bela página pintada pelo tempo, era branca, como será que ficou assim?, quase que tiro uma foto para lhes mostrar, mas como a preguiça não deixa, aí vai o outro poema: longo, aparentemente tradicional até com a referência a canto, lembrança de uma paixão ou paixões que vou gastar um tempo lembrando qual...
CANTO A UM NÃO-SEI-O-QUÊ
I
Aonde nos encontramos,
com quantos olhos,
com quantos planos?
naquele momento,
ou em algum tempo
ainda não descrito
em calendários ou versos?
Em um bar,
em um lar?
Em uma noite ou dia?
(ou não existirá medida para encontros?)
- há tanto envolvido,
há tanto escondido -
...e por trás dos nossos olhos
passam as águas das enchentes.

II
Dementes que sou,
Escrevemos as cartas
(os mapas dos corpos),
O prazer que sentias
eu ouvia, contado pelo vento
em alguma dessas esquinas...
(tantas meninas vieram ao teu ventre
e nasceram de minhas mãos)
- Até hoje não consegui entender
que magia era esta que te permitia
conversar com o vento(?)

III

Com o tempo
ou com a noite,
Deliro teu nome
- Deliro não -
me transformo nele.

IV

Ontem lembrei de teu rosto,
Não como estampado no retrato,
- sorriso in locu -
Mas como o vejo
Nas tochas,
Nos filhos,
Nas árvores...
(pensamento mais besta
achar que me percebes assim...)

V

Nunca.

VI

A visão que eu tinha da loucura
Era de algo branco.
-Tão branco que eu não podia ver -
A não ser aos loucos,
que a manchavam
com suas cores
berrantemente contrastantes.
- Aonde mergulhei,
ou fui mergulhado?

VII

Dez e 42 da manhã,
De um dia não exato,
de qualquer mês,
de algum ano entre
76 e 78 de 1900.
Cortei uma de minhas veias do pulso
atrás de uma pipa
- que não consegui -
Só me restou a hora: exata
e o sangue:abundante
pedindo uma represa,
que hoje vejo feita
(muitos anos mais tarde)
com tuas palavras
montadas em teus sonhos
- Teremos extinguido espécies raras,
impedido a liberdade expontânea dos índios,
trocado de nome
tentando esconder ideologicamente as razões? -
(que não me perguntem por você,
não saberia falar de mim)

VIII

O que é das cordas? - meus pescoço espera.

IX

Brincamos tanto
ao pé das flores,
dos tacacpas e maniçobas.
Os truques na manga
são guizos,
lindos balões
em teus cabelos vermelhos
a descobrir os segrdos de meus dentes.
-Descrente que és-
Meus pés e pernas
te recolhem,
Teus braços e peitos me confundem,
nos leitos em que voamos.

X

Virastes - Viramos
pobres mortais
pra sempre juramos
-E se não for mais?
As luzes acesas
E os choques neon,
te queimam o ventre
me cortam a alma,
A palma da vida
É o nosso beijo
varando o futuro.